sábado, 29 de agosto de 2009

Psicose e vidas passadas



A psicanálise, através de sua visão psicodinâmica, informa-nos sobre a existência de três grandes estruturas do inconsciente humano: as neuroses, as perversões e as psicoses, sendo esta última, um estado de confusão mental acompanhada de delírios e alucinações, sendo as auditivas (ouvir vozes) as mais comuns. A psicose, portanto, vem a ser um desmoronamento do mundo simbólico e de sua relação com a realidade consensual.

No entanto, como a tendência atual é de uma perspectiva interdisciplinar no sentido do tratamento das consideradas "doenças mentais", o Dr. Mario Sergio Silveira, em entrevista concedida à Érika Silveira (Revista Cristã do Espiritismo - n° 27), através de uma ótica espiritual, define a psicose como "a impossibilidade de construir uma personalidade, um eu atual, em razão da predominância das subpersonalidades anteriores, ainda presas aos dramas ocorridos em outros tempos, incluindo também os demais co-participantes que não se libertaram pelo benefício que somente o perdão poderia proporcionar. Deste modo, o ego, esta instância psíquica responsável pela noção de identidade e pelo critério de realidade, não pode operar, uma vez que não se constituiu, ficou com um "defeito" que chamamos "preclusão". Como a vivência da realidade é função do estado de consciência (postulado transpessoal), o ser fica a mercê da invasão de outras vivências de realidade. E aí estamos na experiência psicótica", conclui.

Em relação a recursos médicos e espirituais para evitar ou minimizar um quadro psicótico, Mario Sérgio lembra-nos "que a prevenção primária depende da evolução moral da humanidade". E, a respeito da importância do exercício consciente da maternidade e da paternidade, completa: "Quando pais mais equilibrados recebem em família espíritos em desajuste, maiores são as chances de recuperação, pois estes espíritos desajustados têm mais possibilidades de construirem uma nova personalidade sadia".

No sentido de "minimizar" um quadro psicótico, ou seja, tratar, terapeutizar, ele entende que o avanço psicofarmacológico associado às antigas e novas psicoterapias, assim como a terapia ocupacional, as terapias complementares e os centros espíritas e os centros de umbanda - na dimensão espiritual - são opções de profilaxia e tratamento.

Sobre a psicose sendo tratada através de uma visão interdisciplinar no Hospital Espírita Bom Retiro, de Curitiba, o Dr. Mario Sérgio relata-nos o caso de uma menina de 14 anos, com o diagnóstico de hebrefenia, que, conforme a psicanálise, é a perda do mundo objetivo ou de todo interesse, onde o ego não realiza atividade alguma com a finalidade de "defender-se", onde recai no passado refugiando-se nos tipos infantis de receptividade passiva, talvez intra-uterinos e de existência mais ou menos vegetativa: "Ela chegou no hospital muito prostrada, afeto embotado, confusão mental, ouvindo vozes, apresentando grande dificuldade de contato. Foi medicada com psicofarmacos, estimulada a participar de atividades terapêuticas, porém pouco respondia. Seu nome foi incluído no SAE - Serviço de Atendimento Espiritual. No grupo de desobsessão, foi atendida em desdobramento (projeção), o que facilitou muito o contato, pois adquiria maior consciência. Assim, nós soubemos que o tio que a abusou sexualmente, tendo desencadeado seu surto, tinha sido seu marido numa outra existência, quando em estado de embriaguês a matou. O próprio tio, em desdobramento, admitiu que preferia não ter nenhum parentesco, pois a desejava como mulher. Soubemos, também, que o obsessor, desafeto de outra existência, planejou sua vingança agindo sobre seus centros nervosos, de modo a embaralhar suas memórias de vidas passadas, como um arquivo que tivesse suas fichas todas misturadas".

E no seguimento de seu relato de caso, Mario Sergio conclui: "Felizmente, tivemos a oportunidade de ajudá-la a acessar estas memórias, revivendo-as e "fechando estas portas", uma a uma, num total de quatro encarnações. O obsessor foi afastado para tratamento e a equipe espiritual relatou a realização de uma espécie de cirurgia nos tecidos sutis de seu perispírito, reconstituindo o "buraco" que havia sido aberto pela ação espiritual. Não é preciso dizer que sua melhora foi surpreendente para os parâmetros da psiquiatria".

Em relação a outros casos atendidos no mesmo hospital, subjetivamente, Silveira refere-se ao núcleo "família" como importante fator de evolução ou, como é o enfoque, de desencadeamento de situações conflitantes que dizem respeito ao pretérito: "Em outros casos, encontramos, através do desdobramento, personalidades de outras encarnações que se recusam a aceitar o novo corpo, a família atual, geralmente composta de desafetos de outras existências, e também a condição social que ora se encontram. São almas orgulhosas, arrogantes que não desejavam reencarnar e passar pela experiência retificadora. Provavelmente, se trata de reencarnações compulsórias".

Para finalizarmos, O Dr. Mario Sergio responde sobre qual o tratamento mais adequado para o paciente psicótico: "O tratamento adequado é interdisciplinar, no mínimo. No Hospital Espírita Bom Retiro caminhamos rumo a transdisciplinariedade, numa visão bio-psico-sóciocultural e espiritual, onde o espiritual ocupa o centro de integração dos diversos saberes, das diversas disciplinas e especialidades. Precisamos superar a divisão, a compartimentalização, caminhando para uma visão integral. Precisamos abandonar o formalismo, seja científico, filosófico ou religioso. Em suma, o tratamento médico, psicoterápico, ocupacional, familiar, energético e espiritual, de forma integrada".

MENSAGEM:
"É necessário que confiemos que todos nós temos um Eu Divino, onde mora a saúde, a paz e principalmente o amor que tudo equilibra, dentro de um tempo que é transitório e diante da vida que é eterna. A tarefa desta encarnação é a de nos reencontrarmos com o nosso verdadeiro Eu, ainda encoberto pela sombra de nossos enganos na caminhada evolutiva".
*Mario Sérgio Silveira

O medo da morte



"Quem suportaria tais fardos, gemendo e suando sob uma vida gasta, se não fosse o medo do que há depois da morte, o medo desse país desconhecido, de cujas regiões nenhum visitante retornou, a perturbar-lhe a vontade e a fazê-lo penar por estes campos, em vez de voar para outros que desconhecemos?" (Hamlet, Shakespeare)

Não são as bruxas, demônios, lobisomens, vampiros, entre outros personagens da imaginação popular que há milênios assustam o homem, mas sim, o desconhecimento de si mesmo diante da incógnita da vida, ou seja, o vazio... o nada que existe entre o fim da existência física e o início do incerto, do duvidoso e do inesperado...

O medo da morte encontramos, principalmente, nas fobias e na síndrome do pânico, mas também no habitual comportamento do dia-a-dia, manifestado pelos cuidados exagerados em relação à saúde, higiene e segurança pessoal.

Os índios das Américas em perfeita simbiose com a natureza, utilizavam em suas cerimonias, ervas, plantas e cascas que abriam-lhes as portas da espiritualidade. Era uma forma de minimizar pela experiência transcendental, o medo do desconhecido.

Os hindus, através de uma cultura milenar, utilizam técnicas de meditação e respiratórias, no sentido de buscarem respostas em relação à transcendência do espírito para uma melhor compreensão do significado da vida e da morte física.

A morte, portanto, caricaturizada no ocidente como uma sombra sinistra que porta uma foice, e definida pelos dicionários como "fim, destruição, grande dor e sofrimento intenso", é um imenso ponto de interrogação existencial que vem perturbando o homem desde o remoto passado.

Estudada, dissecada, idealizada ou endeusada por poetas, filósofos, médicos, pintores, psicanalistas e religiosos, a morte, ao mesmo tempo, fascina e assusta o homem desde tempos imemoriais. E, praticamente, vivemos em função dela: ignorando-a, aceitando-a naturalmente ou simplesmente desejando-a...

No entanto, como nos mostram as culturas milenares dos indígenas e dos povos orientais, E, recentemente, religiões de fé raciocinada, a vida nunca cessa, e de capítulo em capítulo reencarnatório ela flui naturalmente entre duas dimensões: a física e a espiritual.

Paradoxalmente, o medo da morte esconde uma verdade ignorada por grande parte da humanidade: o significado da vida! Porque, à medida que o conceito de morte que temos internalizado nos aterroriza e nos provoca inseguranças, deixamos de viver plena e naturalmente, pois a morte passa a representar, inconscientemente, uma consequência da vida, e a vida, um caminho sem volta que leva-nos à destruição e à incerteza...

Por questões culturais e por falta de autoconhecimento, damos mais importância à "morte" - que é uma passagem interdimensional - do que à vida propriamente dita. O medo do homem de desbravar o desconhecido de si mesmo, tem elevado-a à condição de carrasca ceifadora de vidas... aniquiladora. Perdemos muito tempo e energia vital, hipervalorizando-a e esquecemos de valorizar o que é imprescindível: a oportunidade de crescimento que se renova a cada capítulo da nossa existência física.

Quando compreendermos que não somos o centro do universo e que o desconhecido que nos atemoriza encontra-se mais próximo do que imaginamos, teremos dado o primeiro passo seguro em direção a um melhor nível de compreensão sobre o significado da vida. Assimilada a importância do processo vital para o ser inteligente, nos libertaremos das angustias que a morte representa e daremos a ela o lugar que merece no contexto universal.

A substituição gradual, raciocinada e equilibrada do excesso de valores materialistas por valores espirituais, é a abertura que precisamos para que energias harmonizadoras nos proporcionem um olhar diferenciado em direção às origens de nossos atávicos medos. Temores que trazemos de nossos ancestrais e de vidas passadas - alguns tipos de depressão, fobias e síndrome do pânico - que permanecem cristalizados em nosso inconsciente profundo.

Esse novo olhar "visceral" da natureza humana. Olhar que penetra nas entranhas daquilo que tememos e desconhecemos, nos proporcionará o foco de luz necessário para visualizarmos - e compreendermos - aquilo que até então nos cegara.

O medo da morte, então, perderá a sua força... a sua influência negativa em nosso psiquismo. E uma nova energia assumirá o seu lugar: a consciência do significado da vida. Energia que flui à medida que nos libertamos das sombras do desconhecido de nós mesmos, pois a vida, acima de tudo é coragem, desafio, caminho, equilíbrio, amor e crescimento.