segunda-feira, 24 de maio de 2010

Lucidez e loucura

Lucidez e loucura

Lucidez e loucura


Muita confusão sempre se fez entre a pessoa considerada lúcida, e a pessoa considerada "louca" ou perturbada mental. A tênue divisa que separa uma condição da outra é o "fio de navalha" da ciência oficial. É o labirinto onde procuramos uma saída.

Desde a Antiguidade, muita loucura se fez em nome da "normalidade". No entanto, até hoje, os conceitos se misturam confundindo leigos e estudiosos do comportamento humano.

O problema é que foi criado há alguns séculos atrás, um paradígma ocidental do comportamento humano. Modelo baseado nos valores ligados ao mundo físico, palpável, concreto... associado à experiência humana de perceber com os cinco sentidos, a sua realidade inserida neste mundo material.

A partir de então, todo indivíduo rotulado de "diferente" pela mentalidade vigente, era considerado elemento perigoso para o convívio em sociedade. Portanto, discriminado e, muitas vezes, afastado para sempre do convívio social.

Essa mentalidade rendeu séculos de preconceito e de perseguição aos diferentes. Somente após o trauma da Inquisição que os primeiros estudiosos da psique humana iniciaram as suas pesquisas na tentativa de projetar um pouco de luz do conhecimento adquirido.

Contudo, até os dias atuais, a confusão continua instalada, embora mais "sutil" no sentido de sua aceitação e interpretação contemporânea. Os diferentes já não são mais caçados. A mediunidade começa a ser reconhecida no meio científico, e personalidades antes malditas ou rotuladas, como Allan Kardec e Chico Xavier, entre outros, passam a ser referências de idoneidade moral e de equilíbrio na mídia.

O medo do diferente, que antes ameaçava o paradígma da normalidade, passa a ser visto ou aceito enquanto possibilidade de mudança. Já é um bom começo de uma caminhada que ainda tem muito chão a ser percorrido...

No entanto, instalado lá no inconsciente coletivo, o medo de ser considerado "estranho" aos olhos dos "normais", permanece atuando psíquicamente e inibindo o desabrochar de potencialidades inerentes ao ser humano. O estígma do "esquisito" continua freando iniciativas ou provocando conflitos pessoais naqueles, que por medo da aceitação de suas experiências "anormais", acabam bloqueando o fluir do sexto sentido.

A palavra "lúcido", conforme o dicionário, possui um interessante significado porque abre possibilidades: "brilhante, límpido, transparente, claro, preciso". Enquanto o termo "louco", ao contrário, fecha possibilidades: "perdido, contrário à razão, extravagante, esquisito, demente, alienado".

Diante dessa dicotomia, herança da Antiguidade, lucidez e loucura representam uma tomada de consciência e, ao mesmo tempo, um desafio para aqueles que gostariam de assumir a condição de "diferentes" em um estado de coisas que, lentamente, começa a mudar e a aceitá-los no convívio social.

A partir do Terceiro Milênio, os esquisitos começam a assumir o seu lugar em todas as áreas do conhecimento humano, e a "quebrar a espinha dorsal" de um paradígma comportamental construído há séculos.

A "lucidez" começa a entrar no campo do conhecimento da loucura, e a extrair de suas entranhas, novos elementos antes desconhecidos à luz da ciência. E a entender que o "pleno uso da razão" possui um significado relativo se considerarmos a experiência mediúnica associada à nossa natureza espiritual...

A "loucura", por sua vez, começa a ser "dissecada" e associada, em parte, à lucidez. E, em outra parte, associada aos desequilíbrios provenientes do complexo psíquico-espiritual do homem. Cada caso será um caso analisado e tratado conforme a condição integral do indivíduo, ou seja, a sua natureza bio-psico-sócio-espiritual.

O mais importante, por enquanto, é o indivíduo que se sente diferente, assumir sem medo de ser feliz - ou infeliz - a sua "diferença", porque é desafiando e transformando realidades que o homem aprimora o conhecimento sobre si mesmo.

Atualmente, os velhos conceitos de lucidez e loucura começam a desbotar com a ação dos novos tempos de transformações. Uma nova fase de transparência se avizinha para a humanidade. Nos encontramos numa fase transitória, intensa. Exatamente no ponto crucial onde termina a "alienação" e inicia "o claro, o preciso e o transparente".

sábado, 8 de maio de 2010

A lógica e a coerência da reencarnação

A lógica e a coerência da reencarnação

Por que existem as diferenças entre os seres humanos, se todos nascemos da mesma forma materna?

Por que uns nascem saudáveis e outros doentes?
O que explica as deformações congênitas, as mortes prematuras, a longevidade, os desequilíbrios psíquicos, as injustiças, enfim, os dramas pessoais e familiares que provocam muita dor e sofrimento na humanidade?

Se não fosse pela teoria da reencarnação, ou seja, da existência de sucessivas vidas do espírito imortal, fato que tem como objetivo oportunizar ao espírito que retorna a um corpo físico, um recomeço onde poderá rever conceitos próprios e depurar-se ao longo de sua jornada na matéria, ou passar por uma provação como forma de redimir-se diante das Leis Divinas, nada do que acontece de diferente entre nós seria explicado e a vida não faria sentido.

Somos, hoje, a consequência do que fomos em vidas passadas, ou seja, o resultado do que aprendemos - e progredimos - ou deixamos de aprender - e estacionamos - das experiências vitais pregressas.

Se observarmos mais atentamente o ambiente natural, verificaremos que todas as espécies do reino animal seguem uma orientação natural (instinto) na forma como se organizam, vivem e morrem.

Se estudarmos Astronomia ou Física, observaremos que diante de um aparente caos cósmico, existe uma perfeita ordem universal. Uma sintonia em relação ao que nasce e ao que morre...

Se nos aprofundarmos no estudo da Química ou da Biologia, nos surpreenderemos com microorganismos que interagem numa perfeita simbiose, onde cada situação é específica, mas, que na verdade, representam a micro-estrutura responsável pela vida ou pela morte no planeta Terra.

Albert Einstein, o notável físico alemão, num misto de reflexão, alerta e desabafo, registrou em seus manuscritos que "o ser humano vivencia mesmo, seus pensamentos como algo separado do resto do universo - numa espécie de ilusão de ótica de consciência. E essa ilusão é uma espécie de prisão que nos restringe a nossos desejos pessoais, conceitos e ao afeto por pessoas mais próximas. A nossa principal tarefa é de nos livrarmos dessa prisão, ampliando nosso círculo de compaixão, para que ele abranja todos os seres vivos e toda a natureza em sua beleza".

E conclui o famoso cientista: "Ninguem conseguirá alcançar completamente esse objetivo, mas lutar pela sua realização já é por si só parte de nossa liberação e o alicerce de nossa segurança interior".

As palavras de Einstein refletem perfeitamente o sentido da existência humana, em que a lógica e a coerência do "viver", apontam para a necessidade de expansão consciencial como meio do homem libertar-se do restrito círculo vivencial - e perceptivo - ao qual se encontra.

Ao expandir horizontes e enfrentar o desconhecido, o homem eleva a sua consciência à condição de ser universal e finca bases sólidas: "o alicerce de sua segurança interior". Alicerce fundamentado na compaixão, que representa uma compreensão mais ampla do verbo amar...

Muitos cientistas de mente aberta como Einstein, filósofos, artistas, estudiosos da psique e poetas, entre outros, registraram para a posteridade, suas profundas impressões sobre o significado da vida. Visões que testemunharam a própria experiência vital repleta de sentido e significados que transcendem ao âmbito da dimensão física.

O acúmulo de experiências que levamos de vivências no plano físico serve para identificar a nossa sintonia diante do universo. No entanto, se em uma única vida progredimos consideravelmente, perseverando no bem, a nossa sintonia sofre uma alteração e passa a ter uma nova identidade universal.

Somos, sem sombra de dúvida, uma consequência do que viemos sendo há muitos séculos. Somente um "acidente de percurso" poderá alterar essa lógica comportamental, que é o despertar para o autoconhecimento.

O autodescobrimento, à medida que vai se processando, amplia horizontes, alarga a visão sobre a vida e aguça a percepção, alterando para melhor a lucidez e a capacidade de discernimento do indivíduo.

Com o despertar para a realidade espiritual, alteramos o paradigma comportamental e interferimos positivamente em nossa aura, campo de energia que envolve o corpo físico e que pelas formas e cores identifica o nosso estado emocional e a nossa frequência vibratória.

Ao processarmos o autoconhecimento - e a decorrente expansão consciencial - acionamos o mecanismo bio-psíquico-espiritual da autocura, processo que erradica, lentamente, as nossas antigas e arraigadas imperfeições.

Portanto, em pleno terceiro milênio, o maior desafio do ser inteligente é transformar o saldo negativo das reencarnações anteriores, em saldo positivo a partir da vivência atual.

Sabe-se, conforme as Leis Naturais que regem o universo, que nada acontece por acaso e que tudo tem a sua razão de ser ou de acontecer. A lógica e a coerência que orienta a estrutura micro/macro cósmica é perfeita, assim como num "dia" do calendário cósmico, todos os seres inteligentes dos mundos habitados deverão alcançar o último degrau da escala evolutiva. Quando chegar esse momento, seremos no UNO o saldo positivo de todas as vivências anteriores do espírito imortal.

sábado, 1 de maio de 2010

Entre o desejo e o prazer






Entre o desejo, que segundo o dicionário "é a vontade de possuir, aspiração ou cobiça", e o prazer, que significa "causar satisfação", existe um vazio teórico e prático ainda não suficientemente explicado pelas ciências do comportamento humano. Neste espaço não preenchido pelo conhecimento científico do psiquismo, o prazer, que é a satisfação - ou realização - de um desejo, ainda não encontrou eco.

Segundo os hindus, o chacra suadhistana, que em sânscrito significa "a morada do prazer" e situa-se abaixo do umbigo, quando em equilíbrio seria responsável por algumas qualidades positivas do homem, como desejo, prazer, emoções, saúde, tolerância. Mas também responsável por algumas qualidades negativas quando em desequilíbrio, como confusão mental, ciúme e problemas sexuais.

Os desejos, na verdade, impulsionam todas as ações da vida e são responsáveis pela sobrevivência do indivíduo, assim como a procura da companhia e do amor na constituição de uma família. O desejo também é o responsável pelo fato da pessoa buscar a sua evolução dentro de seu contexto vital. Se não existisse o desejo, o que impulsionaria a pessoa a fazer qualquer coisa, a ter iniciativa, a buscar o seu crescimento? A vida perderia a graça, o movimento e o sentido.

Conforme Joanna de Ângelis em "Desejo e Prazer", psicografia de Divaldo P. Franco, "o desejo impõe-se como fenômeno biológico, ético e estético, necessitando ser bem administrado em um como no outro caso, a fim de se tornar motivação para o crescimento psicológico e espiritual do ser humano. É natural, portanto, a busca do prazer, esse desejo interior de conseguir o gozo, o bem-estar, que se expressa após a conquista da meta em pauta".

Para Goethe, o desejo constitui uma verdadeira dádiva de Deus para todos quantos se identificam com a vida e que se alegram com o esplendor e a beleza que ela revela. "A vida, em consequência, retribui-o através do amor e da graça", dizia ele.

O LADO SOMBRA DO DESEJO

No entanto, o desejo - e a busca do prazer - possui o seu lado sombrio que foge ao controle da razão como explica Joanna de Ângelis: "Ocorre quando o impulso que se sobrepõe à razão, desarticula os equipamentos delicados da emoção e conduz ao desajuste comportamental, especialmente na área genésica, expressando-se como erotismo, busca sexual para o gôzo". Sem entrarmos no mérito moral da questão, observamos aqui o descontrole da razão originado pelo desequilíbrio do chacra suadhistana, que repercute no emocional, e como decorrência, no comportamental do indivíduo.

No psicológico, entre o desejo e o prazer, encontramos algumas explicações na herança atávica relacionada ao pecado como "tentação diabólica", ou à castração punitiva via educação, alimentada pela repressão, auto-repressão e sentimento de culpa geradores de conflitos subjacentes que inibem o estímulo original, ou seja, o desejo.

André Luiz, pela psicografia de Chico Xavier em "Sinal verde", registra que "O campo do desejo, no terreno do espírito, é semelhante ao campo de cultura na gleba do mundo, no qual cada lavrador é livre na sementeira e responsável na colheita". E completa a sua racional análise: Desejo é realização antecipada. Querendo, mentalizamos; mentalizando, agimos; agindo, atraímos; e atraindo, realizamos. Como você pensa, você crê, e como você crê, será. A vida é sempre o resultado de nossa própria escolha. A sentença de Jesus: Procura e achará, equivale a dizer: Encontrará o que deseja"

No raciocínio desta frase crística, segue Emmanuel pelo viés das obsessões em "Examina teu desejo", psicografia de Chico Xavier: "Farás o que desejas, assim sendo, se te relegas à maledicência, em breve te constituirás em veículo dos gênios infelizes que se dedicam à injuria e a crueldade. Se te deténs na caça ao prazer dos sentidos, cedo te converterás no intérprete das inteligências magnetizadas pelos vícios de variada expressão. Se te confias à pretensa superioridade, sob a embriaguez dos valores intelectuais mal aplicados, em pouco tempo te farás em canal de insensatez e desequilíbrio".

Segundo o Budismo e as suas quatro nobres verdades, a primeira nobre verdade é a existência do sofrimento: a segunda é que a causa dele são os três venenos: o desejo, a ignorância e a aversão: e a terceira nobre verdade é que o sofrimento acaba quando eliminamos os três venenos.

O LADO LUZ DO DESEJO

Como registrou Joanna de Ângelis em "Amor, imbatível amor", psicografia de Divaldo P. Franco, "O desejo e o prazer se transformam em alavancas que promovem o indivíduo ou abismos que o devoram. A essência da vida corporal, no entanto, é a conquista de si mesmo, a luta bem direcionada para que se consiga a vitória do Self, a sua harmonia e não apenas o gozo breve, que se transfere de um estágio para outro, sempre mais ansioso e perturbador". E completa: "Em esfera mais elevada, torna-se sentimento graças a conquista de algum ideal, alguma aspiração, anseio por alcançar metas agradáveis e desafiadoras, propensão à realização enobrecedora".

Em "Examina teu desejo", alerta-nos Emmanuel pela psicografia de Chico Xavier: "Se te empenhas na boa vontade para com os semelhantes, imperceptívelmente terás o coração impelido pelos mensageiros do Alto ao serviço que possas desempenhar na construção da felicidade comum". E conclui ao relacionar desejo com auto-vigilância: "Examina os teus desejos e vigia os próprios pensamentos, porque onde situares o coração aí a vida te aguardará com as asas do bem ou as algemas do mal".

Para o Budismo, os desejos de iluminar, de amar sinceramente, de ter alegrias, de ser feliz, de sentir-se bem, de fazer o bem, entre outros, são bons desejos e não devem ser eliminados, pois na verdade, a transformação interior por intermédio do autoconhecimento, muda os desejos maus em desejos bons.



COMENTÁRIO

As contribuições da Psicologia, do Budismo e do Espiritismo, através das mensagens de Joanna de Ângelis, Emmanuel e André Luiz, reforçam a tese de que entre o desejo e o prazer existe realmente um espaço onde o bem e o mal transitam conforme as escolhas - livre arbítrio - de cada indivíduo. Como esse "vazio" encontra-se em uma área do psiquismo humano ainda pouco explorado pelos estudiosos do comportamento, conclui-se que a transcendência, fundamentada na teoria reencarnacionista e na fé raciocinada, consiga preencher este espaço deixado pelo (des)conhecimento do materialismo científico.

Como vimos, a padronização vida após vida do comportamento vicioso, onde ocorrem os desequilíbrios psíquico-espirituais entre desejo e prazer, somente é alterada pelo processo de autoconhecimento do indivíduo, quando ele percebe a vida de um ângulo mais profundo, ou seja, em conexão com o canal da transcendência como refere-se Mahatma Gandhi: "O desejo sincero e profundo do coração é sempre realizado; em minha própria vida tenho sempre verificado a certeza disso".

Acredito que seja dessa forma descrita por Gandhi que desejo e prazer se encontram e se completam sem deixar entre um e outro, o vazio da incompreensão científica, filosófica ou religiosa. E esse vazio só é preenchido por aquele que aceita a mudança de atitudes, pois somente a transformação íntima é que pode nos tirar, gradativamente, dos ciclos de desequilíbrios interiores que geram as enfermidades do corpo e da alma.

Psicoterapeuta Interdimensional