sábado, 25 de setembro de 2010

A difícil arte de ser justo!

A difícil arte de ser justo!

O dito popular informa "que o bom julgador por si julga o outro". Verdade que se encontra inserida no profundo significado desta frase, que revela o quanto projetamos no outrem aquilo que temos em nós mesmos ainda não resolvido.

Na cultura dos povos antigos, era comum o julgamento sumário seguido de condenação e execução pública. A Bíblia registra o caso de Maria Madalena, que por ser acusada de adultério, estava sendo apedrejada por populares quando chegou Jesus Cristo e indagou à multidão inquieta: "Quem for puro que atire a primeira pedra". Em seguida, o registro bíblico informa que ninguém mais arremessou uma única pedra contra a mulher considerada "impura" pelos seus executores...

O julgamento, após o trágico evento da Inquisição que vitimou milhares de inocentes e que manchou de sangue a Idade Média, tornou-se mais aprimorado a partir de sua estrutura baseada no senso de justiça nas condenações.

No entanto, mesmo nos dias atuais de um planeta globalizado pelo avanço tecnológico, nos deparamos com situações que nos chocam pelo primitivismo cultural, que são casos que envolvem mulheres em distintos lugares do mundo: uma no Afeganistão que foi condenada e sumariamente executada pelo fato de ser viúva e estar grávida, e a outra no Irã, ameaçada de ser executada por ter cometido adultério.

O fanatismo religioso - que ainda existe, inclusive no Ocidente - é uma sintonia obsessiva que "cega" como cegava há milhares ou centenas de anos atrás. Se a moral que pregam os fanáticos religiosos fosse praticada por eles próprios desde a Antiguidade, a chaga da violência, do ódio, do orgulho e do egoísmo já teria "cicatrizado" e viveríamos tempos de amor e paz.

Na atualidade, os discursos políticos estão "recheados" de críticas, desde as mais sutis às mais destrutivas. A contundência verbal tem sido a marca da disputa pelo poder. Os comentários e avaliações maliciosas - a maledicência - os dardos venenosos lançados em direção às suas vítimas.

Pessoas que se consideram detentoras da verdade absoluta, julgam sem conhecimento de causa. Outras lavam as mãos como Pôncio Pilatos, calando-se diante das injustiças. Poucos percebem que a crítica destrutiva, o comentário maldoso e o julgamento irresponsável são geradores de injustiça, que por si só, é a essência do mal que reside em nós mesmos.

É mais fácil tecer um comentário malicioso ou denegrir a imagem do outrem, do que fazer um elogio sincero ou praticar caridade fazendo "o bem sem olhar a quem...".

É mais fácil fazer fuxico alimentado pela energia da inveja que corrói, do que dar um acolhedor e fraterno abraço, alimentado pelo amor que constrói.

"Não julgueis para não serdes julgado", é o alerta crístico a todos os seres inteligentes dotados de excepcional capacidade de expansão consciencial. Capacidade que subestimamos por nos encontrarmos, muitas vezes, nos papéis de vítimas ou de julgadores, ainda influenciados pela energia de vidas passadas. E esse envolvimento na energia dos sentimentos de injustiça ou de prepotência, paralisa por tempo indeterminado o fluir de nossa inerente capacidade de evolução espiritual.

"Lavar as mãos" ou "julgar sumariamente", são gestos que se repetem entre os homens desde tempos imemoriais, quando a luta pela sobrevivência ou a disputa pelo poder, gerou a "cultura da injustiça" baseada na lei do mais forte, onde as estratégias de conquista eram planejadas a ferro, sangue e fogo.

A cultura da injustiça, sutilmente disseminada na sociedade contemporânea, perdeu a sua força e truculência dos velhos tempos das sangrentas disputas pela "verdade" religiosa e pelo poder. Porém, não perdeu a violência praticada através da ação disfarçada ou da palavra que fere.

A trajetória do homem sobre o planeta Terra é repleta de fatos ou situações em que a mentira preponderou sobre a verdade. Contudo, somos o que fomos, e essa é a nossa verdade.

Portanto, a partir dessa verdade histórica, libertar-se de hábitos culturais retrógrados associado à violência implícita ou explícita, é um dos principais desafios do homem do terceiro milênio. Muitas vezes, lavamos as mãos no ato simbólico da indiferença. Outras tantas, representamos como vítimas ou algozes. É chegado o momento de praticarmos o aprendizado dessas experiências passadas, buscando uma nova visão entre o ter e o ser de nossa existência, e entre o mal e o bem como parâmetro de uma mudança interior focada no despertar de potencialidades adormecidas.

A sabedoria de um velho provérbio Ute, talvez simbolize o que precisamos abdicar do individual em benefício do coletivo, ou seja, a difícil arte de ser simples e justo: "Não ande atrás de mim, talvez eu não saiba liderar. Não ande na minha frente, talvez eu não queira segui-lo. Ande ao meu lado para que possamos caminhar juntos".

sexta-feira, 17 de setembro de 2010

Diante do túmulo de Allan Kardec

Diante do túmulo de Allan Kardec


"Os espíritos anunciam que chegaram os tempos marcados pela Providência para uma manifestação universal e que, sendo eles os ministros de Deus e os agentes de sua vontade, têm por missão instruir e esclarecer os homens, abrindo uma nova era para a humanidade" (Allan Kardec)

O que está por trás da aparência física representa a verdade de cada um. Somos o resultado de nossas obras, e nessa direção, ajudamos ou não a iluminar o caminho de outras pessoas.

Allan Kardec, o codificador do Espiritismo, foi um espírito que iluminou muitos caminhos com a mensagem da verdade e da libertação do mal que reside em nós mesmos. Mensagem que não deixa dúvidas sobre a sua autenticidade, à medida que, ao estudarmos as obras básicas, não encontramos incoerência, contrasenso ou contradições.

Visitar o túmulo de Alan Kardec no cemitére du père lachaise em uma ensolarada manhã de um inverno parisiense, foi uma das maiores emoções de minha vida. Solitário diante de um túmulo simples, construído com blocos sobrepostos de granito, mas embelezado por vasinhos de flores multicoloridas ali colocados e mantidos por espíritas e simpatizantes, era inevitável segurar a emoção que fluia ao sentir a energia que irradiava do local.

No entanto, ao visitarmos o túmulo de Hyppolyto León Denizard Rivail, sentimos que naquele espírito imortal cujos restos mortais ali jazem, existe uma gigantesca obra da qual ele foi apenas um intermediário. Não vamos homenageá-lo no sentido da idolatria ou do culto à personalidade, e sim, em relação aquilo que ele representou durante a sua breve passagem entre nós: um homem de caráter e de fibra, que aceitou sem vacilar, um desafio quase impossível - mas necessario - para a sua época.

Portanto, estar diante do túmulo de Kardec, é regredir aos primórdios da humanidade e refazer a sua trajetória até os dias atuais, onde, naquele pequeno espaço de concreto, flores e luz... muita luz, encontra-se o homem e a sua verdade... que é a verdade de cada um de nós.

Como não estamos eternamente solitários e o mundo é "pequeno", chega junto ao túmulo, um casal dialogando em portugues. Logo reconheço o sotaque do sul do Brasil e ofereço-me para tirar fotos. Iniciamos um diálogo de reconhecimento de origens, e como nada acontece por acaso, o casal era de Porto Alegre e residente na mesma rua onde localiza-se o centro espírita que frequento há muitos anos.

No fluir da conversa, ao ser informado de que encontravam-se afastados do espiritismo há algum tempo, convido-os a participarem das atividades da casa quando retornarem a Porto Alegre. Para minha surpresa, recebo a resposta de que essa era a intenção quando resolveram, em passagem por Paris, visitar o túmulo de Kardec. Mas que agora, diante das "coincidências" daquele encontro, não seria mais intenção, e sim, uma certeza.

Após um diálogo fraterno, espíritos que comungam um mesmo ideal, abraçam-se numa despedida de momento, visto que o resultado deste breve encontro, resulta em reencontro no assumir de tarefas que compete a cada trabalhador dentro de uma casa espírita. Trabalho que deve ser ser encarado com entusiasmo e alegria de servir.

O recado dos espíritos superiores através de Allan Kardec, é muito claro ao alertar-nos de que ninguém é melhor do que ninguém, principalmente ao exercermos um cargo ou função que represente na escala de valores criada pelo homem, hierarquia ou poder sobre os demais.

O poder, a partir da mensagem de Kardec, revela-se uma zona de risco e, ao mesmo tempo, de testagem de nossas verdadeiras intenções, à medida que encontra-se latente em nós, o orgulho, a vaidade, o egoísmo e a prepotência. Exercer o poder, portanto, seja no nível que for, desde o papel de educador ao de governante de uma nação, exige muito discernimento para que não se repitam erros cometidos no passado.

Diante do túmulo de Kardec, passa a história, o presente e o futuro da humanidade. O concreto de blocos sobrepostos de granito, representa a firmeza de caráter. As flores, representam a alegria da vida e a esperança no futuro. A energia do local, algo que nos sensibiliza profundamente e estimula-nos a desafiar medos e inseguranças.

Contudo, não precisamos ir à Paris ou à Índia para adentrarmos no portal de luz do autoconhecimento. A mensagem de Cristo, retransmitidas por Siddartha Gautama, o Buda e por Allan Kardec, o codificador, representam aquilo de que precisamos para aceitar que somos espíritos em busca da verdade no UNO.

Diante da magnitude de tais obras, fica a certeza absoluta de que a vida flui muito além da morte.

sábado, 4 de setembro de 2010

A porta entreaberta

A porta entreaberta

A porta entreaberta



"Cultivemos o bem, eliminando o mal. Façamos luz onde a treva domine. Conduzamos harmonia às zonas em discórdia. Ajudemos a ignorância com o esclarecimento fraterno. Seja o amor ao próximo nossa base essencial em toda a construção no caminho evolutivo" (Emmanuel)

É prática comum nos grupos mediúnicos espíritas, principalmente os que estão iniciando o trabalho após uma fase de estudos, inconscientemente, direcionar o atendimento no sentido seletivo, ou seja, disponibilizar a manifestação de espíritos que estejam somente desorientados em relação ao desencarne, ou ainda, aqueles irmãos mais evoluídos que passam pela reunião para transmitir uma mensagem ao grupo de trabalhadores.

No entanto, mesmo não sendo uma reunião mediúnica de desobsessão, quando encarnados e desencarnados mantém vínculo obsessivo que exige dos trabalhadores experientes muito empenho na libertação desses irmãos comprometidos com o passado, a reunião mediúnica de trabalhadores iniciantes ou mesmo antigos, exige que a "porta" esteja completamente aberta para que todos os irmãos, indistintamente, sejam bem vindos.

O trabalho mediúnico é sempre acompanhado por uma equipe espiritual co-responsavel pelos atendimentos, porém, se o dirigente e os médiuns da reunião não estiverem pré-dispostos ou psicológicamente preparados para o atendimento de irmãos que se apresentam com postura agressiva, desafiadora, manipuladora e de índole perversa, a equipe espiritual evitará que esses espíritos se manifestem através dos médiuns que compõem o grupo de encarnados.

Alerta-nos Emmanuel, através da pscografia de Chico Xavier, em "Vinha de luz", que "A gleba imensa de Cristo reclama trabalhadores devotados, que não demonstrem predileções pessoais por zonas de serviço ou gênero de tarefa". Por isso, torna-se importante o preparo psicológico do dirigente mediúnico e dos médiuns para o atendimento de quem visitar ou for levado à casa espírita com o objetivo do esclarecimento. A porta deve estar sempre aberta para o propósito de uma reunião mediúnica, seja de desobsessão ou não, assim como o acesso deve ser garantido ao encarnado que procura o serviço de atendimento fraterno, seja o caso que for.

Somos todos espíritos devedores, e os irmãos da equipe espiritual sabem que a nossa condição espiritual é um fator de identificação (afinidade vibratória) e de aproximação de espíritos para que ocorra a interação com encarnados durante uma reunião mediúnica. Se nos mostrarmos, mesmo inconscientemente, temerosos e despreparados para a tarefa, esses irmãos não chegarão até nós para o devido atendimento.

No entanto, se nos tornarmos mais receptivos, através da energia do chacra cardíaco, é sinal de que naquela reunião mediúnica existe uma porta aberta para todos os irmãos que por ali desejarem adentrar...

Uma reunião mediúnica kardecista, não é um ritual de evocação de espíritos "malévolos" ou de espíritos adiantados na escala evolutiva. É somente uma reunião à serviço do Amor Maior, onde cada integrante encarnado deve doar um pouco de amor fraterno no atendimento daqueles que procuram por Luz ou que ainda encontram-se perdidos na energia do orgulho, da vaidade e do egoísmo.

Quando em uma reunião mediúnica apresentam-se espíritos de diversos níveis evolutivos, é sinal de que os trabalhadores encarnados estão cumprindo com o propósito da tarefa, que é atender, indiscriminadamente, todos os irmãos que ali forem conduzidos pela equipe espiritual ou que se manifestarem de livre e espontânea vontade.

É tão importante e valiosa a nossa contribuição, que trabalhamos mais do que imaginamos, pois, muitas vezes, somos convocados durante o sono para o atendimento de irmãos que desencarnam em situações trágicas e, geralmente, indivíduos ainda jovens que deixam a vida sem entenderem os motivos.

No século dezenove, registrava Kardec: "O mal é a ausência do bem", isto é, o mal somos nós perdidos no labirinto de nossas próprias imperfeições. E se não tivermos a oportunidade do "acolhimento" mediante a nossa manifesta vontade de mudar, seguiremos da trilha da ilusão por tempo indeterminado.

Portanto, a porta da reunião mediúnica não deve estar entreaberta, e sim, totalmente aberta, receptiva, acolhedora para atender a demanda do trabalho que não é pouco, pois o nível de exigência aumenta à medida que o grupo de encarnados encontra-se harmonizado e comprometido com a tarefa de orientar, socorrer, esclarecer e encaminhar em conjunto com a equipe espiritual.

Um dos recursos que tem o dirigente mediúnico em casos de espíritos que apresentam-se rebeldes, orgulhosos, vingativos ou provocativos e agressivos, é convidá-los a compreender, através da regressão, o que ocorreu no passado em relação aos seus desequilíbrios na esfera das emoções e sentimentos.

Dialogar com o irmão desencarnado através do médium que lhe dá passagem, deve representar uma relação terapêutica e, ao mesmo tempo, uma relação de pai ou mãe com o filho ou filha. E o conjunto dos integrantes que estão envolvidos nessa difícil mas gratificante tarefa, deve representar o abraço acolhedor de uma família que recebe de porta aberta, o filho que retorna à casa do pai.