sábado, 29 de agosto de 2009

O medo da morte



"Quem suportaria tais fardos, gemendo e suando sob uma vida gasta, se não fosse o medo do que há depois da morte, o medo desse país desconhecido, de cujas regiões nenhum visitante retornou, a perturbar-lhe a vontade e a fazê-lo penar por estes campos, em vez de voar para outros que desconhecemos?" (Hamlet, Shakespeare)

Não são as bruxas, demônios, lobisomens, vampiros, entre outros personagens da imaginação popular que há milênios assustam o homem, mas sim, o desconhecimento de si mesmo diante da incógnita da vida, ou seja, o vazio... o nada que existe entre o fim da existência física e o início do incerto, do duvidoso e do inesperado...

O medo da morte encontramos, principalmente, nas fobias e na síndrome do pânico, mas também no habitual comportamento do dia-a-dia, manifestado pelos cuidados exagerados em relação à saúde, higiene e segurança pessoal.

Os índios das Américas em perfeita simbiose com a natureza, utilizavam em suas cerimonias, ervas, plantas e cascas que abriam-lhes as portas da espiritualidade. Era uma forma de minimizar pela experiência transcendental, o medo do desconhecido.

Os hindus, através de uma cultura milenar, utilizam técnicas de meditação e respiratórias, no sentido de buscarem respostas em relação à transcendência do espírito para uma melhor compreensão do significado da vida e da morte física.

A morte, portanto, caricaturizada no ocidente como uma sombra sinistra que porta uma foice, e definida pelos dicionários como "fim, destruição, grande dor e sofrimento intenso", é um imenso ponto de interrogação existencial que vem perturbando o homem desde o remoto passado.

Estudada, dissecada, idealizada ou endeusada por poetas, filósofos, médicos, pintores, psicanalistas e religiosos, a morte, ao mesmo tempo, fascina e assusta o homem desde tempos imemoriais. E, praticamente, vivemos em função dela: ignorando-a, aceitando-a naturalmente ou simplesmente desejando-a...

No entanto, como nos mostram as culturas milenares dos indígenas e dos povos orientais, E, recentemente, religiões de fé raciocinada, a vida nunca cessa, e de capítulo em capítulo reencarnatório ela flui naturalmente entre duas dimensões: a física e a espiritual.

Paradoxalmente, o medo da morte esconde uma verdade ignorada por grande parte da humanidade: o significado da vida! Porque, à medida que o conceito de morte que temos internalizado nos aterroriza e nos provoca inseguranças, deixamos de viver plena e naturalmente, pois a morte passa a representar, inconscientemente, uma consequência da vida, e a vida, um caminho sem volta que leva-nos à destruição e à incerteza...

Por questões culturais e por falta de autoconhecimento, damos mais importância à "morte" - que é uma passagem interdimensional - do que à vida propriamente dita. O medo do homem de desbravar o desconhecido de si mesmo, tem elevado-a à condição de carrasca ceifadora de vidas... aniquiladora. Perdemos muito tempo e energia vital, hipervalorizando-a e esquecemos de valorizar o que é imprescindível: a oportunidade de crescimento que se renova a cada capítulo da nossa existência física.

Quando compreendermos que não somos o centro do universo e que o desconhecido que nos atemoriza encontra-se mais próximo do que imaginamos, teremos dado o primeiro passo seguro em direção a um melhor nível de compreensão sobre o significado da vida. Assimilada a importância do processo vital para o ser inteligente, nos libertaremos das angustias que a morte representa e daremos a ela o lugar que merece no contexto universal.

A substituição gradual, raciocinada e equilibrada do excesso de valores materialistas por valores espirituais, é a abertura que precisamos para que energias harmonizadoras nos proporcionem um olhar diferenciado em direção às origens de nossos atávicos medos. Temores que trazemos de nossos ancestrais e de vidas passadas - alguns tipos de depressão, fobias e síndrome do pânico - que permanecem cristalizados em nosso inconsciente profundo.

Esse novo olhar "visceral" da natureza humana. Olhar que penetra nas entranhas daquilo que tememos e desconhecemos, nos proporcionará o foco de luz necessário para visualizarmos - e compreendermos - aquilo que até então nos cegara.

O medo da morte, então, perderá a sua força... a sua influência negativa em nosso psiquismo. E uma nova energia assumirá o seu lugar: a consciência do significado da vida. Energia que flui à medida que nos libertamos das sombras do desconhecido de nós mesmos, pois a vida, acima de tudo é coragem, desafio, caminho, equilíbrio, amor e crescimento.