sexta-feira, 19 de março de 2010

Filhos são como passarinhos!



A natureza é pródiga com ele que vem ao mundo como um ser totalmente dependente e carente de atenção e amor, pois reúne, em uma só criaturinha, todos os "ingredientes" para despertar em seus responsáveis diretos, sentimentos necessários para que o vínculo do amor se fortaleça.

Contentes, mas algumas vezes apreensivos, acompanhamos o seu desenvolvimento infantil. Seus primeiros passos têm para nós o significado dos primeiros movimentos para a vida, da preparação do "alçar vôo" em busca da independência futura. As primeiras palavras, "mama", "papa", soam como afinadíssimos violinos na sinfonia da vida.

E as fases, uma após a outra, vão passando. Quando nos damos conta, já estão na adolescência a questionar o mundo à sua volta. Paciência, pai! Paciência, mãe! "Haja paciência!" dizemos para nós mesmos. Quase esquecemos (ou não sabemos) que são apenas espíritos, velhos conhecidos de vivências anteriores tentando entender o que estão fazendo neste mundo que parece-lhes não fazer muito sentido.

E a fase turbulenta da adolescência também passa, pois começam a perceber que os companheiros de jornada, os pais, não serão eternos viventes ao seu lado e que cedo ou tarde as necessidades da vida lhes cobrará responsabilidades e atitudes de crescimento pessoal e consciencial.

No entanto, como passarinhos crescidos, mas não totalmente independentes, vão ficando no ninho que mal cabem, porque ali ainda é o porto seguro para a execução de planos de vôos mais altos rumo à dinâmica da vida.

E de repente, o passarinho começa a bater asas, a exercitar o mecanismo do vôo, embora ainda sinta medo de desligar-se completamente da segurança e do aconchego do ninho. E não mais que de repente, o passarinho cria coragem em relação ao enfrentamento dos riscos de sua ousada atitude... e alça vôo rumo à independência, em direção à liberdade um tanto desconhecida e ainda misteriosa.

Nossos filhos, na verdade, como disse Kalill Gibran: "Não são nossos filhos, são filhos e filhas da vida desejosa de si mesma". Porque, mesmo que tenhamos laços afetivos intensos ou afinidades espirituais, eles são individualidades que devem seguir seus caminhos conforme orientam as suas consciências.

A nossa fase de influência na sua formação termina quando começa a adolescência, porque durante e após este período, eles começam a processar internamente, baseado em traços de caráter que trazem de outras vidas, somado à influência de valores transmitidos pelos pais via educação, o direcionamento para as suas próprias existências.

E essa é a sina do ser humano, é o ciclo vital que direciona-nos para as experiências próprias e únicas em convívio com as demais individualidades. Ninguem é definitivamente de ninguém. Ninguém pertence a ninguém. A liberdade de pensar e agir por conta própria em vôos mais altos ou mais baixos da condição humana, pertence, isso sim, à consciência e, principalmente, às escolhas definidas por cada individualidade.

No entanto, acima de tudo, o amor é a energia que permanece como sentimento de gratidão e de respeito mútuo. É a energia que nos acompanha e que continua a envolver-nos nos eventuais retornos ao aconchego da família novamente reunida. Quando isso acontece, para os pais, é sinal que os passarinhos aprenderam a alçar com segurança vôos altos... e cada vez mais altos!

"No pensamento goza o homem de ilimitada liberdade, pois que não há como pôr-lhe peias. Pode-se-lhe deter o vôo, porém não aniquilá-lo!"
Sobre a liberdade do pensar, em O Livro dos Espíritos.


Psicanalista Clínico e Interdimensional
www.flaviobastos.com