segunda-feira, 19 de julho de 2010

O transitório e o eterno

O transitório e o eterno



A dependência afetiva ou o excesso de cuidados em relação a entes queridos e bens materiais herdados ou adquiridos durante a vida, costumam gerar uma energia que aprisiona o indivíduo a sentimentos de apego e posse.

Essa característica comportamental quando levada ao exagero, é responsavel por desequilíbrios na esfera psíquico-espiritual com reflexos na vida atual e futura do indivíduo.

Portanto, melhorar o nível de percepção em relação a nós mesmos inseridos em um contexto vital de contatos interdimensionais e de inter-relacionamentos pessoais, é dever de quem pretende disciplinar seus sentimentos.

Nesse sentido, ao observarmos o comportamento de espécies do reino animal, obtemos aprendizados que contribuem com o desenvolvimento de nossa percepção, como por exemplo, os cães domésticos. Algo na natureza instintiva desses animais, orienta-os ao momento em que a mãe deve separar-se de seus filhotes, garantindo-lhes, dessa forma, a independência afetiva e a liberdade para a vida.

O mesmo acontece com os pássaros, que são orientados pela natureza a desenvolverem habilidades para alçarem võo rumo à liberdade de suas vidas.

No entanto, em relação à necessidade de desapego afetivo e material, falta à espécie hominal inteligente, a percepção apurada de sua natureza transcendental. Mas para que isso ocorra, o indivíduo precisa disciplinar o que ainda não encontra-se disciplinado - ou resolvido - em si mesmo, ou seja, o sentimento de posse, pois é por intermédio desse sentimento em relação à pessoas ou bens materiais, que nos prendemos à indisciplina sentimental responsavel pelo desequilíbrio de nossas emoções. Desajustes que geram somatizações pelo organismo físico...

A dependência afetiva associada ao sentimento de posse, é o que mais atrapalha a vida do indivíduo no sentido de sua emancipação enquanto ser espiritual. A falta de discernimento, provocada por uma percepção condicionada à exigências de origem inconsciente e egóica, faz do corpo físico a sua própria prisão.

Desapegar-se dos exageros afetivos é experimentar, gradualmente, a libertação de antigos padrões de comportamento. É perceber o quanto éramos cativos de sentimentos que nos prendiam a um nível vibratório que limitava a expansão de nossa consciência.

Desapegar dos exageros que nos ligam ao sentimento de posse material, é desprender-se de uma situação onde o ego começa a ceder espaço ao representante de nossa verdadeira identidade diante do universo: a essência, o espírito.

Se queremos ser livres, parar de sofrer pelo que temos e pelo o que não temos, devemos abrigar um único desejo: o de nos transformar. Assim, quando alguém ou algo tem de sair de nossa vida, não alimentamos a ilusão da perda ou do afastamento. O sofrimento vem da fixação a algo ou a alguém. O apego embaça o que deveria estar claro: por trás de uma pretensa perda está o ensinamento de que algo melhor para o nosso crescimento precisa entrar. Se não abrimos mão do velho, como pode haver espaço para o novo?

O excesso de proteção a entes queridos, assim como a dependência afetiva e o excesso de preocupação - ou obsessão - em acumular rendas e patrimonio material, são desarmonias psíquico-espirituais que conseguimos curar à medida que avançamos no caminho do autoconhecimento.

A conquista do equilíbrio entre o "ser e o ter" só se adquire com muito discernimento em relação ao que devemos mudar em nós mesmos. Ter a lucidez e o discernimento necessarios para perceber o que é perecível e o que é eterno em nossas vidas, é sinal de que estamos no rumo da libertação e da cura de sentimentos negativos.

O processo de desapego é de suma importância para o bem-estar do indivíduo nos dois níveis de sua existência, ou seja, nos níveis físico e espiritual, porque quanto mais desapegado estiver o indivíduo das exigências do ego, mais perceptivo e integrado estará em relação à sua natureza espiritual.

O apego e o desapego, inclusive, são determinantes no sentido da difícil ou fácil (re)adaptação do indivíduo quando retorna para o plano espiritual, sendo necessário em alguns casos de apego à matéria, muito tempo até que o espírito perceba que não encontra-se mais no mundo físico.

Portanto, ter saúde integral, que contempla também o psíquico e o espiritual, requer no mínimo, sintonia equilibrada entre o "ter e o ser", onde o exagerado apego afetivo ou material cede lugar a uma percepção mais apurada do significado da vida como oportunidade do ser inteligente expandir a sua consciência.

Na direção do crescimento, o desapego é uma das provas mais difíceis a ser superada pelo indivíduo que deseja libertar-se de seu passado. E nesse sentido, o autoconhecimento é o caminho que deve ser percorrido com muita fé, amor, perseverança, auto-disciplina e discernimento entre o que é transitório e o que é eterno em sua vida.