segunda-feira, 19 de julho de 2010

Líderes?

Líderes?



"Não ande atrás de mim, talvez eu não saiba liderar. Não ande na minha frente, talvez eu não queira segui-lo. Ande ao meu lado para podermos caminhar juntos". (provérbio Ute)

Segundo o ideal de liderança, o verdadeiro líder seria aquele que consegue influenciar fortemente outras pessoas à ação, sem o uso da força, do medo ou do oportunismo. Tem a sua base na atitude pessoal, na competência e no carisma, levando os demais a admirá-lo, respeitá-lo e a defender as suas idéias.

A respeito da palavra "líder", parto do princípio de que o seu verdadeiro significado tem sido deturpado com o passar dos séculos e que os líderes existem porque não sabemos ou não conseguimos ser líderes de nós mesmos, ou seja, pessoas suficientemente auto-responsaveis, determinadas, idealistas e decididas, com senso crítico apurado, opinião própria e participativa social e politicamente.

Por este motivo, entre outros, surgem na sua grande maioria, pseudo-líderes em todas as áreas de atuação humana, principalmente, no âmbito da política e na área empresarial, que movidos por interesses pessoais - sendo cada vez mais raros os idealistas - projetam uma estratégia de crescimento particular associada a outros interesses individuais e coletivos de uma agremiação política ou de um núcleo empresarial, etc.

O problema atual do líder não são as suas inerentes características de liderança, mas o que vem "a reboque" dessa intenção, que, geralmente, apontam a vaidade, o orgulho, a ambição e o egoísmo na direção da sede de poder.

E quando registramos que o homem é obsecado pelo poder, não estamos dizendo nenhuma novidade ou cometendo uma "heresia", pois esta questão é atávica e acompanha a humanidade desde tempos imemoriais, sendo as disputas territoriais, políticas e muitos conflitos bélicos, o testemunho histórico dessa afirmação...

Estamos às vésperas de novas eleições no Brasil. Data marcada em que elegeremos "líderes" que nos representarão a partir do cargo de presidente da República. Portanto, sugiro aos amigos leitores que decidiram confiar o seu voto: percepção aguçada no momento de suas escolhas. Saber "quem é quem" nesse momento, é imprescindível no sentido de estarmos convictos de que não elegeremos oportunistas de plantão ou pseudo-líderes.

Muitos dos candidatos que retornam para nova avaliação popular no próximo pleito, são pseudo-líderes maquiados por um discurso de renovadas promessas e "boas intenções", mas cujo recente passado condena-os como pessoas descompromissadas com a ética e com a prática política voltada para os interesses do bem-comum da sociedade.

Hoje, verificamos em cada nominata de candidatos que representam suas siglas partidárias, verdadeiros "batalhões" de indivíduos munidos de belos e convincentes discursos, onde cada um procura atrair para si, a essência da verdade transformada em novas esperanças para uma classe social ou para o povo em geral.

Pseudo-líderes, demagogos e "experts" na arte do ilusionismo, apresentam-se como preparados para resolver o seu problema... os nossos problemas. Muito cuidado nessa hora, porque o voto, acima de tudo, deve ser baseado em uma lúcida e consciente avaliação das opções de que dispomos.

Particularmente, ao analisar a situação mundial através da ótica do terapeuta holístico, acredito que o modelo político baseado no ideal democrático esteja com os seus dias contados. Não pelo ideal em si, que representa a democracia da livre escolha pelo voto, o que é saudável, mas pela própria caminhada evolutiva da humanidade, cujo modelo democrático, assim como vários outros espalhados pelo mundo, já não contemplam as expectativas de renovação exigidas pela Nova Ordem Mundial, energia transformadora que somente os sensitivos a percebem envolvendo lentamente o nosso planeta...

No milênio em curso, aprenderemos a ser líderes de nós mesmos, ou seja, indivíduos centrados e focados na auto-responsabilidade como fator determinante para desenvolvermos o senso de responsabilidade com o outrem.

A partir dessa realidade social, creio que não existirão mais líderes nos moldes que conhecemos ou que idealizamos, porque uma vez auto-responsaveis não precisaremos mais de alguém que faz - ou diz fazer - aquilo que não fazemos por si próprio, pelo outrem e pelo planeta.

A dependência que hoje ainda temos de líderes ou de pseudo-líderes, acabará à medida que nos conscientizarmos de que o "poder" que obstinadamente perseguimos há milênios, encontra-se em nós mesmos, que são os valores éticos e morais pertencentes às Leis do Amor inseridas em nossas consciências, mas que necessitam de nosso "despertar" para fluir como energia que restaura, purifica e transforma realidades.

segunda-feira, 5 de julho de 2010

A copa que ninguém vê

A copa que ninguém vê


Na África, quando um menino masai aprende a andar, ele já recebe um bastão para ir treinando. Aos 5 anos, ganha junto com uma vara de pastor, sua primeira lança para defender os cordeiros e cabras que receberá em seguida. Assim que aprimora as suas habilidades pastoris, torna-se responsável por alguns animais e, aos 10 anos, já deve saber cuidar de si e de seu gado. São as vacas que lhes provêem quase todos os alimentos que consomem. O gado é tão importante para esse povo que a saudação mais comum quando um masai cruza com outro pelas savanas africanas, é: "Espero que suas vacas estejam bem".

A copa do mundo de futebol que está sendo realizada na África do Sul, traz visibilidade para a região, além de uma legião de turistas e profissionais da imprensa que contribuem com os altos lucros que o país obtém como sede da copa.

No entanto, não muito longe do cenário de interesses que move um evento dessa envergadura, existe uma copa que ninguém vê: "a copa da luta por comida" que ocorre na África Ocidental, onde a mídia mundial não se faz presente porque não existem interesses lucrativos ou de visibilidade que atinja o grande público consumidor.

O certo, é que indiferente à copa do mundo da poderosa FIFA, milhões de africanos ocidentais - estima-se em 10 milhões - estão ameaçados pela estiagem e falta de alimentos a preços acessíveis.

Atualmente, segundo as organizações humanitárias internacionais, pessoas esfomeadas estão sendo forçadas a comer folhas e coletar grãos de formigueiros. A situação cruel se repete em diversos países, onde a insegurança alimentar provocada pela estiagem que devastou plantações e provocou a falta de pastagens, água e colheita pobre, estão levando famílias ao desespero na busca por comida.

Com a crise estabelecida e a decorrente alta no preço dos alimentos, muitas famílias estão consumindo a ração que seria destinada ao gado, fato que tem provocado a morte por inanição de muitos animais, inclusive caprinos, que servem como fonte de alimento no consumo do leite e da carne.

Somando-se às perdas na agricultura provocado pelo desequilíbrio climático na região, nuvens de gafanhoto danificaram as árvores frutíferas que mantinham como a principal fonte de renda nas áreas rurais de alguns países, principalmente no Chade, onde a colheita 2009/2010 foi considerada a pior dos últimos anos.

Conforme informações das organizações humanitárias estabelecidas na África Ocidental, a situação é extremamente preocupante e comparável ao caos que enfrentou a Etiópia em 1984, quando cerca de um milhão de pessoas teriam morrido devido à estiagem e à lenta reação da comunidade internacional frente ao quadro dramático.

Enquanto na copa da fartura as disputas são pela posse da bola, vaidade, orgulho, audiência ou por interesses dissimulados, na copa da fome os interesses estão voltados para a luta pela sobrevivência e dignidade.

Enquanto na África do Sul os micro e mega interesses começam a contabilizar os lucros e as vantagens obtidas nas disputas que tem como "pano de fundo" a bola de futebol, na África Ocidental os esfomeados e esquecidos pelos holofotes da mídia e pelos governantes das super potências, começam a contabilizar as perdas e a projetar um futuro próximo de extremas dificuldades se não forem ajudados pelo capital financeiro internacional e pelas pessoas de boa fé de todos os cantos do planeta.

Enquanto na copa que supervaloriza os "classificados" da competência ou da sorte, que passam de fase e garantem temporariamente as suas aparições "na vitrine da fama", como numa cena surrealista, os desclassificados da copa do infortúnio e do esquecimento, desfilam nas secas e tórridas savanas da África Ocidental, as suas "delegações" de famintos que portam bandeiras e faixas que identificam os seus países de origem e respectivos dramas sociais.

  • Mauritânia: atingido pela crise alimentar;
  • Mali: 629 mil pessoas não tem alimentação adequada;
  • Niger: oito milhões de pessoas em risco;
  • Chade: dois milhões de pessoas em risco;
  • Burkina Fasso: partes do país estão em risco;
  • Nigéria: norte do país atingido pela crise alimentar.
Segue-se ao mórbido desfile das delegações africanas, um depoimento e um dramático apelo de Caroline Gluck, representante da OXFAM no Níger: "Ontem vi uma mulher analisando pedregulhos ao lado de uma estrada, tentando achar grãos que poderiam ter caído de caminhões que transportavam ajuda humanitária". E conclui: "A África Ocidental não tem estado no topo da lista de prioridades dos países desenvolvidos. A questão agora é quantos de nós ainda temos que ver morrer até o mundo agir?"

Enquanto isso, na África do Sul, indiferentes ao SOS da África Ocidental, seguem as disputas em todos os níveis de interesses individuais e coletivos, onde cada um tenta garantir o seu "quinhão".

terça-feira, 22 de junho de 2010

Dê atenção às suas tendências!

Dê atenção às suas tendências!

O comportamento é a forma como nos apresentamos socialmente, ou seja, a expressão de nossos sentimentos, emoções e maneira de ser que envolvem nossos atos no cotidiano da vida. O comportamento, portanto, é a nossa imagem projetada no meio sócio-familiar.

Essa imagem, muitas vezes, sem percebermos, carrega consigo tendências ou vícios de comportamento como a leviandade, a criticidade exagerada, o sarcasmo, entre outros defeitos de caráter...

Características pessoais que acabam tornando-se "marca registrada" de nossa personalidade e influenciando na construção de nossa imagem projetada no âmbito das relações humanas.

Não seria problema se essas tendências comportamentais não cristalizassem com o passar do tempo, levando o indivíduo a se tornar um crítico da "própria sombra", ou um sarcástico de assuntos considerados sérios, ou ainda, um observador leviano contumaz...

Tendências ou vícios comportamentais são características individuais que interferem negativamente na evolução do espírito, pois são mecanismos de atuação psíquica, que ao interferirem no fluir do autoconhecimento, impedem que a fé ou a crença se fortaleçam.

O desenvolvimento da autodisciplina é imprescindível no sentido de "combater" tendências ou vícios de comportamento. A autovigilância, quando levada a sério pelo indivíduo que deseja, convictamente, transformar-se moralmente, já é meio caminho andado para uma tomada de atitude renovadora em sua vida.

Libertar-se dos vícios de caráter que nos acompanham há muito tempo, sempre é um desafio espinhoso, mas não impossível de superar quando a firme vontade está associada à perseverança no Bem.

A falta de disciplina inserida na filosofia de vida, assim como a falta do lúdico quando a disciplina é exagerada, causam desequilíbrios na esfera comportamental do indivíduo, com repercussões no âmbito das relações afetivas. No entanto, para que se processe naturalmente a expansão da consciência, não podemos abdicar do senso de auto-responsabilidade como requisito básico para que a autodisciplina seja fator importante na conquista de etapas do autodescobrimento.

Uma mente muito dispersiva, confusa e perdida no hábito-vício da crítica negativa, do sarcasmo ou da observação leviana, representa uma consciência paralisada no seu processo de autoconhecimento.

Toda situação de tendência comportamental exagerada, característica que a pessoa carrega consigo no dia-a-dia e da qual não consegue libertar-se, com repercussões desagradáveis em seus relacionamentos interpessoais, é passível de ajuda psicoterapêutica.

Quando nos encontramos em um labirinto vital com dificuldades de visualizarmos a saída, é momento de prestarmos atenção ao sinal de alerta que nos avisa sobre a necessidade de buscarmos ajuda para que a saída seja encontrada.

Viver - e morrer - com vícios comportamentais que afastam pessoas que poderiam acrescentar, e atraem outras que afinizam conosco, mas que nada acrescentam em termos de crescimento pessoal, é uma perda de tempo para o ser dotado de inteligência e de imensa capacidade de amar e ser amado.

Amadurecimento, como já registramos, implica em disciplina e senso de responsabilidade consigo próprio e com o mundo de relações que nos cerca. Conviver na crítica exagerada ou no sarcasmo como forma sutil e indireta (transferencial) de agressão, é atitude infantil de defesa que exige, no mínimo, reflexão.

Prestar atenção às suas tendências negativas ou vícios comportamentais, é dever de quem pretende amadurecer na esfera de suas emoções e sentimentos não resolvidos.

Hoje, temos a clareza em relação à somatização de doenças, como a úlcera gástrica e o câncer, originadas pelo fato da pessoa ser amarga, crítica e severa consigo mesma, com o outrem e com o mundo.

Não nascemos por acaso e não viemos ao mundo à toa. A nossa estadia na dimensão física tem um significado que transcende em muito as nossas incompreensões e dúvidas a respeito de nossa existência.

Se quisermos crescer com a oportunidade dada, resta-nos perceber o momento vital para encaminharmos as mudanças de atitudes das quais necessitamos. Caso contrário, permaneceremos céticos e indiferentes vendo a vida passar através de nossa limitada visão.

Erradicar vícios comportamentais através de um melhor nível de autoconhecimento é obrigação de quem luta para libertar-se de atávicas acomodações que interferem negativamente no processo de evolução consciencial.

Portanto, estará sempre o ser inteligente diante do maior de seus desafios: tranformar pelo processo de reforma íntima, vícios e tendências negativas em atitudes positivas, enobrecedoras que elevam o espírito.

sábado, 12 de junho de 2010

Estamos valorizando o amor?

Estamos valorizando o amor?

O amor desvirtuado de seu profundo e verdadeiro significado, convive com o homem há milênios. Na Grécia e Roma antigas, por exemplo, já ocorriam entre os poderosos, banquetes regados à bacanais. Em Jerusalem, bem antes de Cristo, já existia a prostituição como forma de renda. E assim por diante...

No entanto, o amor corrompido vem competindo durante todos esses séculos com uma outra forma de amor: o amor romântico, aquele que aposta na conquista pela sensibilidade e honestidade de sentimentos, embora a cultura moderna tenha deformado em parte, a imagem do ideal romântico.

O Dia dos Namorados, portanto, tenta resgatar o romantismo entre seres humanos que se amam, e exaltar o amor como forma de valorização do próprio homem.

Esta data, sobretudo, leva-nos à reflexões sobre o significado do amor em nossas vidas, ou seja, até que ponto estamos dando a devida importância à energia que promove o equilíbrio e a felicidade nas relações humanas? Estamos, suficientemente, valorizando o amor em nossas vidas?

Entre dramas domésticos, tragédias consumadas, declarações apaixonadas, separações e relações (re)assumidas em nome do amor, o Dia dos Namorados representa o "lado bom" do ser humano, pois além de resgatar valores desgastados com a velocidade dos tempos modernos, (re)aproxima pelo vínculo do amor, o indivíduo do outrem.

Em época conturbada no âmbito das relações amorosas, quando os papéis do masculino e do feminino passam por alterações no contexto socio-familiar, o Dia dos Namorados ressurge como um "bálsamo romântico" para que os enamorados de todas as idades repensem a vida a partir da união entre dois seres envolvidos em compromisso de amor.

Dia para refletir a respeito do que motiva as desavenças, os ciumes, os desequilíbrios que tornam muitas pessoas infelizes. Mas também, dia para refletir sobre o que torna outras tantas pessoas equilibradas, felizes e satisfeitas com seus relacionamentos.

Valorizar o amor, a começar pelo namoro, é valorizar a vida. As conquistas de uma vida tornam-se mais valorizadas quando compartilhadas e movidas pela energia da cumplicidade amorosa.

Não deixemos os aprendizados para a próxima vivência na dimensão física. O ser que hoje demonstra estar enamorado de você, pode ser um amor de outra época que retornou para voces trilharem juntos uma nova caminhada.

Caminhada que visa, acima de tudo, o crescimento mútuo, onde o compromisso com o amor assumido é a luz que orienta os seus passos na senda do progresso.

O Dia dos Namorados, portanto, elege a importância do amor diário como fator de evolução tanto material quanto espiritual entre indivíduos que apostam na felicidade possível, as suas expectativas vitais de presente e futuro.

Apesar do avanço tecnológico que elege a máquina como a vedete do tempo presente, o simbolismo da data lembra-nos que não somos robots, mas seres dotados de sensibilidade, emoções e sentimentos. E que a vida no planeta Terra ainda depende das relações humanas fundamentadas no amor.

Para os jovens, o estágio do namoro vincula-os a projetos de vida, expectativas de crescimento, esperança de constituir família, ter filhos, emprego estável... responsabilidades.

Para aqueles nem tão jovens, mas que apesar das diferenças insistem em manter a relação, o dia doze representa a possibilidade de recomeço a partir da ponderação, do diálogo aberto na tentativa de "aparar arestas" e (r)estabelecer o senso de equilíbrio que gera mais amor, um amor amadurecido pelas pequenas ou grandes conquistas mútuas.

Para aqueles que conseguem manter um longo tempo de relacionamento onde a estabilidade e o crescimento superam eventuais crises de relação, a data é lembrada - e comemorada - como uma história de amor que amadureceu com o passar do tempo....

Enfim, o doze de junho, data que comemoramos o Dia dos Namorados, deve ser um dia de reflexão para todos nós, pois refletir sobre a importância do amor em nossas vidas, representa o nível de valorização que damos a si mesmos, ao outrem e ao planeta onde vivenciamos uma intensa relação de amor.

segunda-feira, 24 de maio de 2010

Lucidez e loucura

Lucidez e loucura

Lucidez e loucura


Muita confusão sempre se fez entre a pessoa considerada lúcida, e a pessoa considerada "louca" ou perturbada mental. A tênue divisa que separa uma condição da outra é o "fio de navalha" da ciência oficial. É o labirinto onde procuramos uma saída.

Desde a Antiguidade, muita loucura se fez em nome da "normalidade". No entanto, até hoje, os conceitos se misturam confundindo leigos e estudiosos do comportamento humano.

O problema é que foi criado há alguns séculos atrás, um paradígma ocidental do comportamento humano. Modelo baseado nos valores ligados ao mundo físico, palpável, concreto... associado à experiência humana de perceber com os cinco sentidos, a sua realidade inserida neste mundo material.

A partir de então, todo indivíduo rotulado de "diferente" pela mentalidade vigente, era considerado elemento perigoso para o convívio em sociedade. Portanto, discriminado e, muitas vezes, afastado para sempre do convívio social.

Essa mentalidade rendeu séculos de preconceito e de perseguição aos diferentes. Somente após o trauma da Inquisição que os primeiros estudiosos da psique humana iniciaram as suas pesquisas na tentativa de projetar um pouco de luz do conhecimento adquirido.

Contudo, até os dias atuais, a confusão continua instalada, embora mais "sutil" no sentido de sua aceitação e interpretação contemporânea. Os diferentes já não são mais caçados. A mediunidade começa a ser reconhecida no meio científico, e personalidades antes malditas ou rotuladas, como Allan Kardec e Chico Xavier, entre outros, passam a ser referências de idoneidade moral e de equilíbrio na mídia.

O medo do diferente, que antes ameaçava o paradígma da normalidade, passa a ser visto ou aceito enquanto possibilidade de mudança. Já é um bom começo de uma caminhada que ainda tem muito chão a ser percorrido...

No entanto, instalado lá no inconsciente coletivo, o medo de ser considerado "estranho" aos olhos dos "normais", permanece atuando psíquicamente e inibindo o desabrochar de potencialidades inerentes ao ser humano. O estígma do "esquisito" continua freando iniciativas ou provocando conflitos pessoais naqueles, que por medo da aceitação de suas experiências "anormais", acabam bloqueando o fluir do sexto sentido.

A palavra "lúcido", conforme o dicionário, possui um interessante significado porque abre possibilidades: "brilhante, límpido, transparente, claro, preciso". Enquanto o termo "louco", ao contrário, fecha possibilidades: "perdido, contrário à razão, extravagante, esquisito, demente, alienado".

Diante dessa dicotomia, herança da Antiguidade, lucidez e loucura representam uma tomada de consciência e, ao mesmo tempo, um desafio para aqueles que gostariam de assumir a condição de "diferentes" em um estado de coisas que, lentamente, começa a mudar e a aceitá-los no convívio social.

A partir do Terceiro Milênio, os esquisitos começam a assumir o seu lugar em todas as áreas do conhecimento humano, e a "quebrar a espinha dorsal" de um paradígma comportamental construído há séculos.

A "lucidez" começa a entrar no campo do conhecimento da loucura, e a extrair de suas entranhas, novos elementos antes desconhecidos à luz da ciência. E a entender que o "pleno uso da razão" possui um significado relativo se considerarmos a experiência mediúnica associada à nossa natureza espiritual...

A "loucura", por sua vez, começa a ser "dissecada" e associada, em parte, à lucidez. E, em outra parte, associada aos desequilíbrios provenientes do complexo psíquico-espiritual do homem. Cada caso será um caso analisado e tratado conforme a condição integral do indivíduo, ou seja, a sua natureza bio-psico-sócio-espiritual.

O mais importante, por enquanto, é o indivíduo que se sente diferente, assumir sem medo de ser feliz - ou infeliz - a sua "diferença", porque é desafiando e transformando realidades que o homem aprimora o conhecimento sobre si mesmo.

Atualmente, os velhos conceitos de lucidez e loucura começam a desbotar com a ação dos novos tempos de transformações. Uma nova fase de transparência se avizinha para a humanidade. Nos encontramos numa fase transitória, intensa. Exatamente no ponto crucial onde termina a "alienação" e inicia "o claro, o preciso e o transparente".

sábado, 8 de maio de 2010

A lógica e a coerência da reencarnação

A lógica e a coerência da reencarnação

Por que existem as diferenças entre os seres humanos, se todos nascemos da mesma forma materna?

Por que uns nascem saudáveis e outros doentes?
O que explica as deformações congênitas, as mortes prematuras, a longevidade, os desequilíbrios psíquicos, as injustiças, enfim, os dramas pessoais e familiares que provocam muita dor e sofrimento na humanidade?

Se não fosse pela teoria da reencarnação, ou seja, da existência de sucessivas vidas do espírito imortal, fato que tem como objetivo oportunizar ao espírito que retorna a um corpo físico, um recomeço onde poderá rever conceitos próprios e depurar-se ao longo de sua jornada na matéria, ou passar por uma provação como forma de redimir-se diante das Leis Divinas, nada do que acontece de diferente entre nós seria explicado e a vida não faria sentido.

Somos, hoje, a consequência do que fomos em vidas passadas, ou seja, o resultado do que aprendemos - e progredimos - ou deixamos de aprender - e estacionamos - das experiências vitais pregressas.

Se observarmos mais atentamente o ambiente natural, verificaremos que todas as espécies do reino animal seguem uma orientação natural (instinto) na forma como se organizam, vivem e morrem.

Se estudarmos Astronomia ou Física, observaremos que diante de um aparente caos cósmico, existe uma perfeita ordem universal. Uma sintonia em relação ao que nasce e ao que morre...

Se nos aprofundarmos no estudo da Química ou da Biologia, nos surpreenderemos com microorganismos que interagem numa perfeita simbiose, onde cada situação é específica, mas, que na verdade, representam a micro-estrutura responsável pela vida ou pela morte no planeta Terra.

Albert Einstein, o notável físico alemão, num misto de reflexão, alerta e desabafo, registrou em seus manuscritos que "o ser humano vivencia mesmo, seus pensamentos como algo separado do resto do universo - numa espécie de ilusão de ótica de consciência. E essa ilusão é uma espécie de prisão que nos restringe a nossos desejos pessoais, conceitos e ao afeto por pessoas mais próximas. A nossa principal tarefa é de nos livrarmos dessa prisão, ampliando nosso círculo de compaixão, para que ele abranja todos os seres vivos e toda a natureza em sua beleza".

E conclui o famoso cientista: "Ninguem conseguirá alcançar completamente esse objetivo, mas lutar pela sua realização já é por si só parte de nossa liberação e o alicerce de nossa segurança interior".

As palavras de Einstein refletem perfeitamente o sentido da existência humana, em que a lógica e a coerência do "viver", apontam para a necessidade de expansão consciencial como meio do homem libertar-se do restrito círculo vivencial - e perceptivo - ao qual se encontra.

Ao expandir horizontes e enfrentar o desconhecido, o homem eleva a sua consciência à condição de ser universal e finca bases sólidas: "o alicerce de sua segurança interior". Alicerce fundamentado na compaixão, que representa uma compreensão mais ampla do verbo amar...

Muitos cientistas de mente aberta como Einstein, filósofos, artistas, estudiosos da psique e poetas, entre outros, registraram para a posteridade, suas profundas impressões sobre o significado da vida. Visões que testemunharam a própria experiência vital repleta de sentido e significados que transcendem ao âmbito da dimensão física.

O acúmulo de experiências que levamos de vivências no plano físico serve para identificar a nossa sintonia diante do universo. No entanto, se em uma única vida progredimos consideravelmente, perseverando no bem, a nossa sintonia sofre uma alteração e passa a ter uma nova identidade universal.

Somos, sem sombra de dúvida, uma consequência do que viemos sendo há muitos séculos. Somente um "acidente de percurso" poderá alterar essa lógica comportamental, que é o despertar para o autoconhecimento.

O autodescobrimento, à medida que vai se processando, amplia horizontes, alarga a visão sobre a vida e aguça a percepção, alterando para melhor a lucidez e a capacidade de discernimento do indivíduo.

Com o despertar para a realidade espiritual, alteramos o paradigma comportamental e interferimos positivamente em nossa aura, campo de energia que envolve o corpo físico e que pelas formas e cores identifica o nosso estado emocional e a nossa frequência vibratória.

Ao processarmos o autoconhecimento - e a decorrente expansão consciencial - acionamos o mecanismo bio-psíquico-espiritual da autocura, processo que erradica, lentamente, as nossas antigas e arraigadas imperfeições.

Portanto, em pleno terceiro milênio, o maior desafio do ser inteligente é transformar o saldo negativo das reencarnações anteriores, em saldo positivo a partir da vivência atual.

Sabe-se, conforme as Leis Naturais que regem o universo, que nada acontece por acaso e que tudo tem a sua razão de ser ou de acontecer. A lógica e a coerência que orienta a estrutura micro/macro cósmica é perfeita, assim como num "dia" do calendário cósmico, todos os seres inteligentes dos mundos habitados deverão alcançar o último degrau da escala evolutiva. Quando chegar esse momento, seremos no UNO o saldo positivo de todas as vivências anteriores do espírito imortal.

sábado, 1 de maio de 2010

Entre o desejo e o prazer






Entre o desejo, que segundo o dicionário "é a vontade de possuir, aspiração ou cobiça", e o prazer, que significa "causar satisfação", existe um vazio teórico e prático ainda não suficientemente explicado pelas ciências do comportamento humano. Neste espaço não preenchido pelo conhecimento científico do psiquismo, o prazer, que é a satisfação - ou realização - de um desejo, ainda não encontrou eco.

Segundo os hindus, o chacra suadhistana, que em sânscrito significa "a morada do prazer" e situa-se abaixo do umbigo, quando em equilíbrio seria responsável por algumas qualidades positivas do homem, como desejo, prazer, emoções, saúde, tolerância. Mas também responsável por algumas qualidades negativas quando em desequilíbrio, como confusão mental, ciúme e problemas sexuais.

Os desejos, na verdade, impulsionam todas as ações da vida e são responsáveis pela sobrevivência do indivíduo, assim como a procura da companhia e do amor na constituição de uma família. O desejo também é o responsável pelo fato da pessoa buscar a sua evolução dentro de seu contexto vital. Se não existisse o desejo, o que impulsionaria a pessoa a fazer qualquer coisa, a ter iniciativa, a buscar o seu crescimento? A vida perderia a graça, o movimento e o sentido.

Conforme Joanna de Ângelis em "Desejo e Prazer", psicografia de Divaldo P. Franco, "o desejo impõe-se como fenômeno biológico, ético e estético, necessitando ser bem administrado em um como no outro caso, a fim de se tornar motivação para o crescimento psicológico e espiritual do ser humano. É natural, portanto, a busca do prazer, esse desejo interior de conseguir o gozo, o bem-estar, que se expressa após a conquista da meta em pauta".

Para Goethe, o desejo constitui uma verdadeira dádiva de Deus para todos quantos se identificam com a vida e que se alegram com o esplendor e a beleza que ela revela. "A vida, em consequência, retribui-o através do amor e da graça", dizia ele.

O LADO SOMBRA DO DESEJO

No entanto, o desejo - e a busca do prazer - possui o seu lado sombrio que foge ao controle da razão como explica Joanna de Ângelis: "Ocorre quando o impulso que se sobrepõe à razão, desarticula os equipamentos delicados da emoção e conduz ao desajuste comportamental, especialmente na área genésica, expressando-se como erotismo, busca sexual para o gôzo". Sem entrarmos no mérito moral da questão, observamos aqui o descontrole da razão originado pelo desequilíbrio do chacra suadhistana, que repercute no emocional, e como decorrência, no comportamental do indivíduo.

No psicológico, entre o desejo e o prazer, encontramos algumas explicações na herança atávica relacionada ao pecado como "tentação diabólica", ou à castração punitiva via educação, alimentada pela repressão, auto-repressão e sentimento de culpa geradores de conflitos subjacentes que inibem o estímulo original, ou seja, o desejo.

André Luiz, pela psicografia de Chico Xavier em "Sinal verde", registra que "O campo do desejo, no terreno do espírito, é semelhante ao campo de cultura na gleba do mundo, no qual cada lavrador é livre na sementeira e responsável na colheita". E completa a sua racional análise: Desejo é realização antecipada. Querendo, mentalizamos; mentalizando, agimos; agindo, atraímos; e atraindo, realizamos. Como você pensa, você crê, e como você crê, será. A vida é sempre o resultado de nossa própria escolha. A sentença de Jesus: Procura e achará, equivale a dizer: Encontrará o que deseja"

No raciocínio desta frase crística, segue Emmanuel pelo viés das obsessões em "Examina teu desejo", psicografia de Chico Xavier: "Farás o que desejas, assim sendo, se te relegas à maledicência, em breve te constituirás em veículo dos gênios infelizes que se dedicam à injuria e a crueldade. Se te deténs na caça ao prazer dos sentidos, cedo te converterás no intérprete das inteligências magnetizadas pelos vícios de variada expressão. Se te confias à pretensa superioridade, sob a embriaguez dos valores intelectuais mal aplicados, em pouco tempo te farás em canal de insensatez e desequilíbrio".

Segundo o Budismo e as suas quatro nobres verdades, a primeira nobre verdade é a existência do sofrimento: a segunda é que a causa dele são os três venenos: o desejo, a ignorância e a aversão: e a terceira nobre verdade é que o sofrimento acaba quando eliminamos os três venenos.

O LADO LUZ DO DESEJO

Como registrou Joanna de Ângelis em "Amor, imbatível amor", psicografia de Divaldo P. Franco, "O desejo e o prazer se transformam em alavancas que promovem o indivíduo ou abismos que o devoram. A essência da vida corporal, no entanto, é a conquista de si mesmo, a luta bem direcionada para que se consiga a vitória do Self, a sua harmonia e não apenas o gozo breve, que se transfere de um estágio para outro, sempre mais ansioso e perturbador". E completa: "Em esfera mais elevada, torna-se sentimento graças a conquista de algum ideal, alguma aspiração, anseio por alcançar metas agradáveis e desafiadoras, propensão à realização enobrecedora".

Em "Examina teu desejo", alerta-nos Emmanuel pela psicografia de Chico Xavier: "Se te empenhas na boa vontade para com os semelhantes, imperceptívelmente terás o coração impelido pelos mensageiros do Alto ao serviço que possas desempenhar na construção da felicidade comum". E conclui ao relacionar desejo com auto-vigilância: "Examina os teus desejos e vigia os próprios pensamentos, porque onde situares o coração aí a vida te aguardará com as asas do bem ou as algemas do mal".

Para o Budismo, os desejos de iluminar, de amar sinceramente, de ter alegrias, de ser feliz, de sentir-se bem, de fazer o bem, entre outros, são bons desejos e não devem ser eliminados, pois na verdade, a transformação interior por intermédio do autoconhecimento, muda os desejos maus em desejos bons.



COMENTÁRIO

As contribuições da Psicologia, do Budismo e do Espiritismo, através das mensagens de Joanna de Ângelis, Emmanuel e André Luiz, reforçam a tese de que entre o desejo e o prazer existe realmente um espaço onde o bem e o mal transitam conforme as escolhas - livre arbítrio - de cada indivíduo. Como esse "vazio" encontra-se em uma área do psiquismo humano ainda pouco explorado pelos estudiosos do comportamento, conclui-se que a transcendência, fundamentada na teoria reencarnacionista e na fé raciocinada, consiga preencher este espaço deixado pelo (des)conhecimento do materialismo científico.

Como vimos, a padronização vida após vida do comportamento vicioso, onde ocorrem os desequilíbrios psíquico-espirituais entre desejo e prazer, somente é alterada pelo processo de autoconhecimento do indivíduo, quando ele percebe a vida de um ângulo mais profundo, ou seja, em conexão com o canal da transcendência como refere-se Mahatma Gandhi: "O desejo sincero e profundo do coração é sempre realizado; em minha própria vida tenho sempre verificado a certeza disso".

Acredito que seja dessa forma descrita por Gandhi que desejo e prazer se encontram e se completam sem deixar entre um e outro, o vazio da incompreensão científica, filosófica ou religiosa. E esse vazio só é preenchido por aquele que aceita a mudança de atitudes, pois somente a transformação íntima é que pode nos tirar, gradativamente, dos ciclos de desequilíbrios interiores que geram as enfermidades do corpo e da alma.

Psicoterapeuta Interdimensional